O que não falamos quando falamos de IA na medicina: Padrão de cuidado não é cuidado padrão. Novas modalidades de cuidado (assistidas por IA ou não) são sempre medidas em relação a um "padrão de cuidado" platônico que não existe na clínica real. Medicina é tanto arte quanto ciência. Os profissionais estão sobrecarregados, cansados, apressados e rotineiramente se desviam do SOC clássico. Novas modalidades de cuidado são eliminadas no berço porque não conseguem se comparar ao provedor imaginário com tempo infinito e conhecimento infinito. Mas não é isso que a maioria dos pacientes recebe hoje. Um cuidado menos que perfeito que escala para muito mais pacientes é um bem moral óbvio, mas nosso atual limite torna isso quase impossível. Todo provedor entende que o SOC real varia. Nem tudo é preto no branco. Fisiologia não se encaixa em caminhos limpos de livros didáticos. As áreas cinzentas são onde os grandes profissionais de saúde se destacam. Nunca permitiríamos que sistemas de IA operassem nessas mesmas zonas cinzentas, mesmo que seja aí que a maior parte do cuidado real realmente acontece. Também nunca falamos sobre os pacientes que não atendemos. Os julgamentos dos profissionais sobre "como funciona a saúde" vêm dos pacientes à sua frente. Eles não veem os pacientes que nunca entram na porta, nem os que estão mortos ou muito mais doentes por causa de algo que aconteceu rio acima: acesso ruim, falta de acesso ou atendimento ruim. Temos dificuldade em raciocinar sobre a enorme população que existe completamente fora do sistema atual de saúde — invisível devido à falta de confiança, falta de acesso, geografia, agendamento, cuidados infantis, trabalho, etc. O cuidado assistido por IA e focado no consumidor pode ser uma das poucas formas de alcançar muitos desses pacientes onde eles realmente estão. Todo mundo tem medo de "alucinações" e erros da IA. Mas os profissionais também têm alucinações. Erros médicos são estimados como uma das principais causas de morte nos EUA. A diferença é que, quando um clínico humano comete um erro, temos direito de erro médico, estruturas de responsabilidade civil e trilhões de dólares em seguros envolvidos nessa realidade. À medida que os sistemas de IA melhoram e representam uma parcela maior da tomada real de decisão, teremos que responder perguntas básicas: licenciamos e seguramos modelos como fazemos com os clínicos, ou os prestadores simplesmente herdam o risco de usá-los? Saúde também não é "lindy". O seguro de saúde privado em sua forma moderna decolou na década de 1950. Medicare e Medicaid foram lançados na década de 1960. A maior parte do sistema que tratamos como sagrado é mais jovem do que muitos dos executivos que o comandam. Não há razão para acreditar que ela deva existir em sua forma atual pelo próximo século. A escolha do consumidor é o canário. Nossa crise de custos e acesso é impulsionada por um conjunto restrito de atores que buscam renda e que não têm incentivo real para melhorar nada. A assistência de saúde assistida por IA e voltada para o consumidor eventualmente mostrará que um atendimento mais barato e melhor é realmente possível — e, ao fazer isso, expor grande parte do sistema existente como um golpe. É hora de (re)construir confiança. Atualmente, muitos provedores agem como se a segunda pior coisa que pode entrar no departamento deles fosse um VC ou um executivo de tecnologia. Essa desconfiança é merecida. A tecnologia tem prometido demais e entregado menos do que suficiente na saúde por décadas. Mas ficar nessa postura para sempre não vai resolver nada. A única saída para essa crise é levar a sério a ideia de que desta vez pode realmente ser diferente — e então cobrar as pessoas disso. Implosão apoiada por venture yield é uma boa schadenfreude. Mas não devemos sentir orgulho em oferecer um atendimento ruim, a alto custo, para poucas pessoas, porque nos recusamos a levar as novas ferramentas a sério.